VIII ComA. Atlas para o Futuro 

Emerson Dionisio Gomes de Oliveira, Karina e Silva Dias 

 

 

No momento em que a ciência, o conhecimento e especialmente as artes e as humanidades sofrem um ataque articulado em favor da desinformação e contra os processos democráticos, o Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Universidade de Brasília oferece à comunidade os resultados e os processos de investigações de jovens artistas pesquisadores de nove instituições brasileiras. Justamente neste momento, o PPGAV completou 25 anos de existência, marcada pela persistência e, agora, pela resistência.   

 

Resultado histórico de mudanças ao longo dos últimos anos, o PPGAV/PPG-ARTE é o mais antigo programa dedicado à pesquisa em artes do Centro-Oeste. Criado em 1994 com uma área de concentração voltada para as investigações em Arte e Tecnologia da Imagem, o mestrado em Artes acolheu, desde os anos 1990, prioritariamente, pesquisas em produção poética relacionadas à arte contemporânea e suas tecnologias, ao mesmo tempo em que incentivou a aproximação da produção artística vinculada às políticas do corpo e suas relações com a produção cênica. Esse momento de fixaçãoda produção em arte contemporânea foi essencial para ampliar no Distrito Federal uma rede de instituições que passavam a debater a produção de jovens mestrandos egressos do Programa, com uma crescente demanda por educadores na área de artes. Sem detrimento das áreas inicias que constituíram o Programa, os anos 2000 marcaram o fortalecimento de pesquisas dedicadas à produção teórica, em especial a História da Arte e a História da Cena, bem como incursões de pesquisadores nas práticas pedagógicas. Desta forma, nos anos 2000, o Programa assumiu a defesa e a difusão da arte contemporânea, em toda sua variedade e polêmica. 

 

De certo, que a vocação principal do Programa, ainda, estava devotada às pesquisas em arte e tecnologia, performatividade e a produção contemporânea em poéticas visuais. Contudo, o Programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais, em 2007, e a implantação do Doutorado em 2008, assinalaram uma ampliação dos quadros do PPGAV/UnB, assimilando uma nova realidade quanto a composição e a finalidade do Programa. A primeira metade dos anos de 2010 foi marcada pela ampliação das relações interdisciplinares. Consolidaram-se pesquisas em poéticas contemporâneas; arte e sua interface com as tecnologias emergentes, com ênfase na arte computacional; teoria e história da arte e, a produção performática (artes visuais, teatro e dança). As quatro seções deste livro expressam a história do Programa. Em Narrativas curatoriais e historiografia da arte apresentam oito pesquisas (re)visitaram obras e artistas por vieses inéditos e/ou críticos marcam as pesquisas neste âmbito. São pesquisas unidas pela sua aversão ao biografismo e que garantem novos estudos em história e teoria da arte, apontando para a revisão da história das práticas artísticas na formação das noções de arte que foram se cristalizando por meio da historiografia convencional. Três pesquisas debruçaram-se sobre a produção artística e o que podemos denominar como culturas urbanas dedicadas as visualidades e visibilidades das agendas políticas de grupos marginalizados e minorias históricas. Cinco pesquisadores se dedicaram às políticas públicas, performatividades e alteridades, enfatizando pesquisas voltadas à (re)atividade performativa, que abriga na mesma tessitura a paisagem, o metabolismo e as repercussões ético-políticas que envolvem questões práticas da educação em artes visuais. E, por fim, temos seis textos dedicados aos processos poéticos, delineados em territórios, fronteiras e temporalidades próprias das investigações operadas por artistas-pesquisadores que apresentaram novos questionamentos poéticos na construção de uma reflexão auto-referencial. Todos os textos foram tecidos para o VIII ComA e indicam “futuros” distintos para a pesquisa em artes no âmbito das investigações na pós-graduação brasileira.  

 

Criado pelos discentes em 2004 com o nome Coletivo do Mestrado em Arte no Programa de Artes da Universidade de Brasília e rebatizado como Coletivo em Artes Visuais em 2014, o ComA realizou sua oitava edição questionando e celebrando a produção da pesquisa em artes visuais no Brasil, especialmente na região Centro-Oeste. Como proposta dos alunos de mestrado e de doutorado do atual PPGAV/UnB, o ComA celebrou os 25 anos do programa da UnB. Neste período o programa foi responsável pela formação de mestres e doutores dedicados às artes visuais e, até recentemente, às artes cênicas. Criado do desejo de pesquisar e formar investigadores com ênfase na produção artística conectada com as novas questões tecnológicas em 1994, acolheu nos anos 2000 as propostas dos discentes de produzir eventos que reunissem alunos de pós-graduação, pesquisadores sêniores, alunos de graduação e a comunidade artística. Assim o ComA tomou configurações diversas, tornando-se um evento bienal a partir de 2015, organizado pelos discentes do programa. 

 

Este livro reúne as pesquisas apresentadas no ComA de 2019. O evento questionou qual o futuro da pesquisa em artes visuais, dentro e fora da universidade, e ao mesmo tempo celebrou a produção oriunda das duas décadas de consolidação do Programa. “Atlas para o futuro”, título engenhado por Gê Orthof e Karina Dias, aponta para a história do pesquisador australiano Peter Trickett. Em 2007, Trickett encontrou numa livraria de Camberra um mapa português do século XVI, de um lugar não identificado, publicado no Atlas Vallard (c.1545), baseado nas cartasnáuticas traçadas na viagem de 1522 do português Cristóvão de Mendonça. Trickett simplesmente girou noventa graus o mapa e concluiu que se tratava da Austrália. O “giro” rendeu o livro “Beyond Capricorn” (Além de Capricórnio), com sugestivo e polêmico título “como aventureiros portugueses descobriram secretamente e mapearam a Austrália e a Nova Zelândia 250 anos antes do Capitão Cook”.  

 

Diante dos desafios atuais para a pesquisa em artes, o ComA buscou no exemplo de Trickett um olhar de viés, um giro nas atuais perspectivas, para encontrarmos, quem sabe, possibilidades de “futuro”, novas formas de engajamento científico e artístico. Este livro apresenta pesquisas que refletem, direta ou indiretamente, sobre a crise o esfacelamento da perspectiva de futuro, a flexibilização e o mercado de trabalho para as artes visuais; as alterações nas noções de tempo e espaço trazidas pelas novas tecnologias; a fragmentação do sujeito e os desafios do ensino das artes visuais para ensino básico, entre outras questões. Garantindo a multiplicidade de perspectivas. Nesse tocante, “Atlas para o futuro” reúne artistas-pesquisadores, arte-educadores, teóricos e historiadores da arte para debater o impacto social e econômico da pesquisa e da formação discente em artes no âmbito regional e nacional. Do mesmo modo, nas palavras de Geoge Steiner, buscamos “despertar em outro ser humano poderes e sonhos além dos seus; induzir nos outros um amor por aquilo que amamos; fazer do seu presente interior o seu futuro: eis uma tripla aventura como nenhuma outra”.  

 

 

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VIII ComA. Atlas para o Futuro 

Emerson Dionisio Gomes de Oliveira, Karina e Silva Dias 

 

 

No momento em que a ciência, o conhecimento e especialmente as artes e as humanidades sofrem um ataque articulado em favor da desinformação e contra os processos democráticos, o Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Universidade de Brasília oferece à comunidade os resultados e os processos de investigações de jovens artistas pesquisadores de nove instituições brasileiras. Justamente neste momento, o PPGAV completou 25 anos de existência, marcada pela persistência e, agora, pela resistência.   

 

Resultado histórico de mudanças ao longo dos últimos anos, o PPGAV/PPG-ARTE é o mais antigo programa dedicado à pesquisa em artes do Centro-Oeste. Criado em 1994 com uma área de concentração voltada para as investigações em Arte e Tecnologia da Imagem, o mestrado em Artes acolheu, desde os anos 1990, prioritariamente, pesquisas em produção poética relacionadas à arte contemporânea e suas tecnologias, ao mesmo tempo em que incentivou a aproximação da produção artística vinculada às políticas do corpo e suas relações com a produção cênica. Esse momento de fixaçãoda produção em arte contemporânea foi essencial para ampliar no Distrito Federal uma rede de instituições que passavam a debater a produção de jovens mestrandos egressos do Programa, com uma crescente demanda por educadores na área de artes. Sem detrimento das áreas inicias que constituíram o Programa, os anos 2000 marcaram o fortalecimento de pesquisas dedicadas à produção teórica, em especial a História da Arte e a História da Cena, bem como incursões de pesquisadores nas práticas pedagógicas. Desta forma, nos anos 2000, o Programa assumiu a defesa e a difusão da arte contemporânea, em toda sua variedade e polêmica. 

 

De certo, que a vocação principal do Programa, ainda, estava devotada às pesquisas em arte e tecnologia, performatividade e a produção contemporânea em poéticas visuais. Contudo, o Programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais, em 2007, e a implantação do Doutorado em 2008, assinalaram uma ampliação dos quadros do PPGAV/UnB, assimilando uma nova realidade quanto a composição e a finalidade do Programa. A primeira metade dos anos de 2010 foi marcada pela ampliação das relações interdisciplinares. Consolidaram-se pesquisas em poéticas contemporâneas; arte e sua interface com as tecnologias emergentes, com ênfase na arte computacional; teoria e história da arte e, a produção performática (artes visuais, teatro e dança). As quatro seções deste livro expressam a história do Programa. Em Narrativas curatoriais e historiografia da arte apresentam oito pesquisas (re)visitaram obras e artistas por vieses inéditos e/ou críticos marcam as pesquisas neste âmbito. São pesquisas unidas pela sua aversão ao biografismo e que garantem novos estudos em história e teoria da arte, apontando para a revisão da história das práticas artísticas na formação das noções de arte que foram se cristalizando por meio da historiografia convencional. Três pesquisas debruçaram-se sobre a produção artística e o que podemos denominar como culturas urbanas dedicadas as visualidades e visibilidades das agendas políticas de grupos marginalizados e minorias históricas. Cinco pesquisadores se dedicaram às políticas públicas, performatividades e alteridades, enfatizando pesquisas voltadas à (re)atividade performativa, que abriga na mesma tessitura a paisagem, o metabolismo e as repercussões ético-políticas que envolvem questões práticas da educação em artes visuais. E, por fim, temos seis textos dedicados aos processos poéticos, delineados em territórios, fronteiras e temporalidades próprias das investigações operadas por artistas-pesquisadores que apresentaram novos questionamentos poéticos na construção de uma reflexão auto-referencial. Todos os textos foram tecidos para o VIII ComA e indicam “futuros” distintos para a pesquisa em artes no âmbito das investigações na pós-graduação brasileira.  

 

Criado pelos discentes em 2004 com o nome Coletivo do Mestrado em Arte no Programa de Artes da Universidade de Brasília e rebatizado como Coletivo em Artes Visuais em 2014, o ComA realizou sua oitava edição questionando e celebrando a produção da pesquisa em artes visuais no Brasil, especialmente na região Centro-Oeste. Como proposta dos alunos de mestrado e de doutorado do atual PPGAV/UnB, o ComA celebrou os 25 anos do programa da UnB. Neste período o programa foi responsável pela formação de mestres e doutores dedicados às artes visuais e, até recentemente, às artes cênicas. Criado do desejo de pesquisar e formar investigadores com ênfase na produção artística conectada com as novas questões tecnológicas em 1994, acolheu nos anos 2000 as propostas dos discentes de produzir eventos que reunissem alunos de pós-graduação, pesquisadores sêniores, alunos de graduação e a comunidade artística. Assim o ComA tomou configurações diversas, tornando-se um evento bienal a partir de 2015, organizado pelos discentes do programa. 

 

Este livro reúne as pesquisas apresentadas no ComA de 2019. O evento questionou qual o futuro da pesquisa em artes visuais, dentro e fora da universidade, e ao mesmo tempo celebrou a produção oriunda das duas décadas de consolidação do Programa. “Atlas para o futuro”, título engenhado por Gê Orthof e Karina Dias, aponta para a história do pesquisador australiano Peter Trickett. Em 2007, Trickett encontrou numa livraria de Camberra um mapa português do século XVI, de um lugar não identificado, publicado no Atlas Vallard (c.1545), baseado nas cartasnáuticas traçadas na viagem de 1522 do português Cristóvão de Mendonça. Trickett simplesmente girou noventa graus o mapa e concluiu que se tratava da Austrália. O “giro” rendeu o livro “Beyond Capricorn” (Além de Capricórnio), com sugestivo e polêmico título “como aventureiros portugueses descobriram secretamente e mapearam a Austrália e a Nova Zelândia 250 anos antes do Capitão Cook”.  

 

Diante dos desafios atuais para a pesquisa em artes, o ComA buscou no exemplo de Trickett um olhar de viés, um giro nas atuais perspectivas, para encontrarmos, quem sabe, possibilidades de “futuro”, novas formas de engajamento científico e artístico. Este livro apresenta pesquisas que refletem, direta ou indiretamente, sobre a crise o esfacelamento da perspectiva de futuro, a flexibilização e o mercado de trabalho para as artes visuais; as alterações nas noções de tempo e espaço trazidas pelas novas tecnologias; a fragmentação do sujeito e os desafios do ensino das artes visuais para ensino básico, entre outras questões. Garantindo a multiplicidade de perspectivas. Nesse tocante, “Atlas para o futuro” reúne artistas-pesquisadores, arte-educadores, teóricos e historiadores da arte para debater o impacto social e econômico da pesquisa e da formação discente em artes no âmbito regional e nacional. Do mesmo modo, nas palavras de Geoge Steiner, buscamos “despertar em outro ser humano poderes e sonhos além dos seus; induzir nos outros um amor por aquilo que amamos; fazer do seu presente interior o seu futuro: eis uma tripla aventura como nenhuma outra”.